Saúde
“Com o suporte certo, muitas pessoas com dislexia se destacam em áreas criativas e inovadoras, em que suas habilidades únicas são valorizadas e reconhecidas”, afirma a neuropediatra
Especialista aponta que muitas vezes os professores são os primeiros a notar sinais de dislexia devido à observação diária do desempenho acadêmico da criança. Eles podem identificar dificuldades persistentes na leitura e escrita que não melhoram com a instrução convencional
O ator britânico Orlando Bloom, conhecido pelo personagem “Will Turner”, no filme “Os Piratas do Caribe”, e a atriz norte-americana Whoopi Goldberg, famosa pela “Oda Mae”,em “Ghost”, são personalidades diagnosticadas com dislexia. Segundo a neuropediatra Estéfani Ortiz, trata-se de um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizado por dificuldades no reconhecimento preciso e/ou fluente de palavras, e por fracas habilidades de decodificação e soletração. Os sintomas que podem indicar o distúrbio são dificuldade em ler palavras isoladas, problemas com a correspondência entre sons e letras, leitura lenta e laboriosa, problemas com a ortografia, dificuldade em compreender o que foi lido, problemas com a memória de curto prazo, dificuldade em seguir instruções escritas.
Estéfani diz que o diagnóstico da dislexia é dado por meio de avaliação multidisciplinar, incluindo psicólogo, fonoaudiólogo e neuropsicólogo, testes padronizados de leitura, linguagem e habilidades cognitivas, histórico escolar e relatos dos pais e professores. “A dificuldade na leitura é um dos principais indicadores de dislexia. No entanto, é importante que essa dificuldade seja persistente e não decorrente de outros fatores, como falta de instrução adequada ou outros transtornos como TDAH”, ressalta.
As dislexias de desenvolvimento, essas que aparecem na infância, não são todas iguais. A neuropediatra comenta que elas podem variar em sua manifestação e gravidade.
Existem diferentes subtipos:
Dislexia fonológica: dificuldade em relacionar os sons da fala com as letras.
Dislexia superficial: dificuldade em reconhecer palavras de forma global.
Dislexia mista: uma combinação das dificuldades fonológicas e superficiais.
Tratamento
Intervenção fonoaudiológica: para melhorar as habilidades de linguagem e leitura.
Terapia ocupacional: para trabalhar com habilidades motoras finas e integração sensorial.
Suporte educacional especializado: programas de leitura específicos, uso de tecnologia assistiva e adaptações no ambiente escolar.
Psicoterapia: para lidar com possíveis problemas emocionais e comportamentais decorrentes das dificuldades de aprendizagem.
O papel da escola
De acordo com a neuropediatra, a escola deve lidar com a criança que tem dislexia de maneira inclusiva e acolhedora, garantindo que o ambiente seja favorável ao seu aprendizado e bem-estar. É fundamental ser implementada adaptações curriculares específicas, como proporcionar mais tempo para a realização de provas e atividades escritas, além de permitir o uso de tecnologias assistivas que possam facilitar a leitura e escrita. “Utilizar métodos de ensino multissensoriais, que envolvam diferentes sentidos como visão, audição e movimento, pode ser extremamente eficaz para ajudar a criança a assimilar melhor os conteúdos.
Além disso, é crucial que a escola ofereça suporte individualizado, com intervenções específicas para atender às necessidades particulares de cada criança com dislexia. Isso pode incluir o acompanhamento de um profissional especializado, como um fonoaudiólogo ou psicopedagogo, que trabalhe em conjunto com os professores e a família para desenvolver estratégias de ensino personalizadas”, destaca.
Para Estéfani, a escola também deve promover a sensibilização e formação contínua dos professores sobre a dislexia, para que eles estejam capacitados a identificar e apoiar os alunos que apresentam dificuldades de leitura e escrita. Ela salienta que a colaboração estreita entre o colégio, os pais e os profissionais de saúde é essencial para garantir um suporte abrangente e eficaz, que contribua para o desenvolvimento acadêmico e emocional da criança. “Dessa forma, a escola não apenas facilita o aprendizado, mas também ajuda a criança a construir uma autoestima positiva e a enfrentar os desafios de maneira mais confiante”, acredita.
Dificuldades que o disléxico pode ter na vida
A médica conta que no ambiente de trabalho, as dificuldades com leitura e escrita podem afetar o desempenho profissional, especialmente em tarefas que exigem grande precisão textual ou rapidez na leitura. Isso pode levar a um sentimento de frustração e até mesmo à necessidade de buscar carreiras que sejam mais compatíveis com suas habilidades e desafios específicos.
Na faculdade, os estudantes com dislexia podem precisar de mais tempo e recursos para acompanhar os estudos. A leitura intensa e os trabalhos escritos podem ser particularmente desafiadores, o que pode resultar em maior necessidade de suporte acadêmico, como tutoria especializada, uso de tecnologia assistiva e adaptações nas avaliações. “Sem o devido apoio, esses estudantes podem enfrentar dificuldades significativas em manter o ritmo dos cursos, o que pode impactar sua autoestima e motivação”, observa.
Nos relacionamentos afetivos, a dislexia pode influenciar de diversas maneiras. A baixa autoestima e a frustração resultantes das dificuldades acadêmicas e profissionais podem afetar a confiança e a comunicação nos relacionamentos. “A pessoa com dislexia pode sentir-se incompreendida ou menos capaz em comparação aos seus pares, o que pode gerar conflitos e mal-entendidos. É importante que parceiros e amigos estejam cientes das dificuldades e ofereçam apoio e compreensão”, lembra.
Entretanto, a neuropediatra enfatiza que muitas pessoas com dislexia conseguem superar esses desafios com estratégias compensatórias e apoio adequado. “A identificação precoce e a intervenção podem fazer uma grande diferença, permitindo que indivíduos com dislexia desenvolvam suas habilidades e alcancem sucesso em suas carreiras e vidas pessoais”, conclui.
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