Saúde
Fibromialgia: entenda a doença que afeta principalmente a população feminina
O diagnóstico é baseado na avaliação clínica dos sintomas e na exclusão de outras condições médicas
A atriz Daniele Valente e a cantora Deborah Blando são duas personalidades famosas diagnosticadas com fibromialgia. Dados da Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED), de 2022, mostram que pelo menos 3% da população brasileira sofre com dores físicas intensas e incapacitantes da doença. O estudo ainda aponta a síndrome como a mais recorrente em mulheres entre 25 e 50 anos. Segundo a médica Flávia Cohen, trata-se de uma condição complexa e multifacetada caracterizada por dor crônica difusa, sensibilidade aumentada nos pontos de pressão e uma variedade de sintomas que podem afetar diferentes partes do corpo, funções físicas e mentais. “Embora a dor seja o sintoma mais proeminente e persistente da fibromialgia, existem vários outros sintomas que também são comuns e podem ser igualmente debilitantes”, diz.
Sintomas
Fadiga: muitas pessoas relatam fadiga profunda e persistente, mesmo após períodos de repouso adequado.
Distúrbios do sono: dificuldades para dormir, insônia, sono não reparador e distúrbios do sono, como a síndrome das pernas inquietas e apneia, são comuns.
Rigidez muscular e articular: rigidez matinal e dificuldade em se mover ou na realização de atividades físicas devido à rigidez muscular e articular são frequentes.
Problemas cognitivos: conhecido como "nevoeiro cerebral" ou "fibrofog", esses sintomas podem incluir dificuldade de concentração, problemas de memória, confusão mental e lentidão cognitiva.
Alterações de humor: ansiedade, depressão, irritabilidade e variações de humor são sintomas emocionais comuns associados à fibromialgia.
Sensibilidade a estímulos sensoriais: pessoas com fibromialgia podem ser sensíveis à luz, sons, cheiros e temperaturas extremas, o que pode aumentar o desconforto e a sensação de dor.
Problemas gastrointestinais: sintomas como síndrome do intestino irritável (SII), inchaço abdominal, constipação e diarreia são frequentemente relatados.
Dor de cabeça: enxaqueca e dores de cabeça frequentes podem ser sintomas associados.
Diagnóstico
Flávia explica que a fibromialgia pode ser uma doença de diagnóstico tardio para algumas pessoas, especialmente porque os sintomas costumam ser semelhantes aos de outras condições médicas e não existem exames específicos para diagnosticá-la. “No entanto, o diagnóstico precoce e preciso é crucial para iniciar o tratamento adequado e melhorar a qualidade de vida do paciente”, comenta. Ela cita alguns pontos essenciais:
História clínica detalhada: o médico realiza uma entrevista para entender os sintomas do paciente, incluindo a natureza da dor, localização, intensidade, duração e fatores que a exacerbam ou aliviam. Também será importante discutir outros sintomas como fadiga, distúrbios do sono, problemas cognitivos, entre outros.
Exame físico: pode identificar pontos de dor específicos no corpo conhecidos como pontos de tender. Embora a presença desses pontos seja uma característica da fibromialgia, eles não são suficientes para diagnosticar a condição.
Exclusão de outras condições: o médico pode solicitar exames laboratoriais e de imagem para descartar outras doenças, como artrite reumatoide, lúpus, hipotireoidismo, entre outras.
Diagnóstico: é baseado em critérios estabelecidos pela American College of Rheumatology (ACR). Conforme esses critérios, o paciente deve ter dor generalizada por pelo menos três meses e sensibilidade em pelo menos 11 dos 18 pontos de tender específicos no corpo.
Avaliação multidisciplinar: em alguns casos, o médico pode encaminhar o paciente a outros especialistas, como reumatologistas, neurologistas, fisiatras ou psicólogos, para avaliação adicional e apoio no manejo dos sintomas.
“O diagnóstico da fibromialgia pode ser desafiador devido à sua natureza complexa e à variedade de sintomas que podem variar de pessoa para pessoa. Além disso, a fibromialgia coexiste frequentemente com outras condições médicas, como síndrome da fadiga crônica, síndrome do intestino irritável e distúrbios do sono, o que pode tornar o diagnóstico ainda mais complicado”, ressalta.
Tratando a fibromialgia
Segundo Cohen, por meio de um tratamento adequado e uma abordagem multidisciplinar, muitas pessoas conseguem gerenciar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, além da importância de consultar um médico especializado em dor crônica ou reumatologista. “É fundamental para obter um diagnóstico preciso. Isso pode incluir medicamentos para alívio da dor, da fadiga, do sono e de outros sintomas, aponta.
Medicamentos para melhorar o sono, analgésicos, relaxantes musculares, antidepressivos e estabilizadores de humor podem ser prescritos para controlar os sintomas da fibromialgia. A fisioterapia e exercícios físicos (de baixo impacto, como caminhada, natação e ioga) podem ajudar a melhorar a flexibilidade, a força muscular, a resistência, reduzir a dor e a rigidez. Já a terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a desenvolver estratégias para lidar com o estresse, ansiedade, depressão e os pensamentos negativos associados à fibromialgia, podendo melhorar o estado emocional e a capacidade de enfrentamento.
Para a médica, estabelecer uma rotina regular de sono, como criar um ambiente propício e praticar técnicas de relaxamento antes de dormir podem ajudar a melhorar a qualidade e reduzir a fadiga. Outro benefício é a alimentação saudável, equilibrada e nutritiva. Ela pode ajudar a manter o peso, fornecer energia adequada e reduzir a inflamação no corpo. Consultar um nutricionista pode ser útil para orientação personalizada. Outra opção são as técnicas de relaxamento como meditação, respiração profunda, massagem e acupuntura que podem ajudar a reduzir o estresse, aliviar a dor e melhorar o bem-estar geral.
Mulheres são mais vulneráveis
A especialista esclarece que as mulheres são consideradas mais vulneráveis à fibromialgia pela combinação de fatores biológicos, hormonais, genéticos, sociais e psicológicos. Apesar de a fibromialgia poder afetar pessoas de qualquer idade, sexo ou origem étnica, as mulheres são diagnosticadas com fibromialgia com mais frequência do que os homens. Ela lista alguns motivos:
Fatores hormonais: durante o ciclo menstrual e a menopausa podem influenciar a sensibilidade à dor e a percepção dos sintomas da fibromialgia.
Sensibilidade à dor: estudos sugerem que as mulheres tendem a ser mais sensíveis à dor do que os homens devido às diferenças na sensibilidade dos receptores de dor e na resposta do sistema nervoso.
Genética: embora a fibromialgia não seja uma condição hereditária direta, há evidências de que fatores genéticos podem desempenhar um papel no desenvolvimento da condição. Além disso, certos genes associados à sensibilidade à dor podem ser mais prevalentes em mulheres.
Fatores psicossociais: questões emocionais como estresse, ansiedade, depressão e traumas passados podem influenciar a vulnerabilidade das mulheres à fibromialgia. O estresse crônico pode desencadear ou piorar os sintomas da condição.
Resposta ao tratamento: alguns estudos sugerem que as mulheres podem responder de maneira diferente aos tratamentos para a fibromialgia em comparação com os homens. Isso pode influenciar a gravidade e a gestão dos sintomas.
Diferenças na comunicação de dor: mulheres e homens podem expressar a dor de maneira diferente. Os médicos podem interpretar os sintomas de forma distinta com base no gênero do paciente. Isso pode afetar o diagnóstico e o tratamento da fibromialgia.
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