NOSSAS REDES SOCIAS

Saúde

Médica explica os cuidados ginecológicos para mulheres LGBTQIA+

Publicado

em

Especialista comenta que o acompanhamento deve ser personalizado, multidisciplinar e fundamentado no respeito às necessidades e escolhas individuais. O atendimento inclusivo e acolhedor é um pilar essencial para promover o bem-estar e a saúde integral

A ginecologista Helena Lapa (CRM-SP 221.722 e RQE 106.763) diz que mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) possuem necessidades específicas que, historicamente, foram pouco abordadas pelos serviços de saúde, como:

  • O risco para ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), incluindo HPV, clamídia, gonorreia, herpes e sífilis. A transmissão pode ocorrer por contato direto, compartilhamento de objetos sexuais, sexo oral e contato com mucosas. O uso de barreiras de proteção, como camisinhas femininas ou de dedo, por exemplo, é fundamental, além de discutir abertamente o uso de práticas seguras sexuais, principalmente para aquelas que possuem múltiplas parcerias.
  • Vacinação para HPV e hepatite B também é recomendada, caso ainda não tenha sido feita.
  • Mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) podem desenvolver câncer de colo do útero, especialmente se já tiveram contato com o HPV. O exame de Papanicolau é uma triagem importante, mesmo que algumas mulheres achem que o risco é menor.
  • Exames de mama e outros rastreamentos também devem ser seguidos conforme a idade e os fatores de risco, como na população geral.
  • Algumas mulheres que fazem sexo com mulheres também mantêm relações com homens ou podem optar pela maternidade por meio de métodos de reprodução assistida. Portanto, discussões sobre anticoncepcionais e planejamento familiar são apropriadas.

A médica lembra que os profissionais de saúde devem ter sensibilidade e serem capacitados para tratar este público, evitando o uso de perguntas e comportamentos heteronormativos, sem preconceitos. “Estabelecer um ambiente de saúde seguro e sem julgamentos é essencial para melhorar a adesão ao cuidado e permitir que a paciente fale abertamente. Dessa forma, contribuindo para que mulheres que fazem sexo com mulheres acessem os cuidados necessários e tenham uma vida mais saudável”, aponta.

Consultas ginecológicas

Helena pontua que a consulta ginecológica ocorre ao menos uma vez por ano para todas as mulheres, independentemente da orientação sexual. Ela esclarece que essa consulta permite rastrear cânceres ginecológicos, revisão de práticas sexuais seguras e a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

O exame de Papanicolau deve ser feito regularmente de acordo com as orientações nacionais de rastreamento. No caso de mulheres que fazem sexo com mulheres, geralmente a cada três anos, ou para àquelas que já tiveram alguma vez relação sexual com homem, fazer anualmente. Ademais, iniciar rastreamento a partir dos 25 anos ou segundo o histórico prévio de exames, fatores de risco e idade da primeira relação sexual. “Mulheres com múltiplas parcerias, histórico de ISTs ou que relatam sintomas (como corrimento vaginal, dor pélvica, ou lesões genitais) podem necessitar de consultas adicionais para exames e tratamento. O médico pode ajustar a frequência das consultas com base nas características individuais”, afirma.

Falsa crença de que mulheres lésbicas, bissexuais e homens trans estão menos propensos às ISTs

Helena chama a atenção que essa afirmação inverídica surge de vários fatores históricos, culturais e de falta de informação. Ela lembra que, por muito tempo, a sexualidade entre mulheres e de pessoas trans não foi considerada nos estudos e campanhas de saúde pública. Com isso, práticas sexuais entre mulheres foram subestimadas.

Dra. Helena Lapa - Foto divulgação

Dra. Helena Lapa – Foto divulgação

A ginecologista ressalta que muitos programas de saúde pública enfatizaram a transmissão de ISTs aos heterossexuais e homossexuais, como, por exemplo, o contágio de HIV entre homens que fazem sexo com outros homens, gerando a impressão equivocada de que são “menos prováveis” em relações entre mulheres ou em pessoas que não mantêm relações sexuais com homens. “O sexo entre mulheres é, em geral, visto como menos arriscado devido à percepção de ausência de penetração, embora várias ISTs possam ser transmitidas por contato direto com mucosas, secreções corporais e pele. Doenças como herpes, HPV, sífilis e tricomoníase podem ser transmitidas dessa forma”, alerta.

A especialista conta que há uma falsa crença de que mulheres lésbicas e bissexuais usam com menos frequência objetos sexuais ou não compartilham esses itens, o que não é sempre verdade. Para ela, a falta de informações específicas leva a uma baixa percepção de risco. A crença de “menor risco” pode levar a comportamentos menos preventivos e a uma menor busca por exames regulares, aumentando o risco de ISTs nessas populações. “Profissionais de saúde bem-informados e abordagens de prevenção inclusivas são fundamentais para combater essas falsas crenças e promover uma saúde sexual segura para todos os grupos”, salienta.

Acompanhamento da saúde do homem transgênero

Helena observa que, caso o homem trans esteja em terapia de reposição de testosterona, é importante monitorar os níveis hormonais regularmente para garantir que estejam na faixa desejada e para ajustar doses, se necessário. A terapia hormonal em longo prazo pode afetar a densidade mineral óssea e o risco de osteoporose, portanto, a realização periódica de exames como a densitometria óssea é recomendada, principalmente para homens trans que interromperam a terapia de testosterona ou que estão na menopausa hormonal.

A ginecologista destaca que é recomendado o monitoramento de efeitos colaterais e de riscos, como o aumento do colesterol, hipertensão, problemas hepáticos, níveis de hemoglobina e hematócrito, entre outros. Homens trans que mantêm órgãos reprodutivos como útero, ovários e mamas devem seguir as orientações para rastreamento de cânceres ginecológicos. Isso inclui exames como o Papanicolau (citologia cervical) e mamografia, conforme a idade e o histórico pessoal de saúde.

Para homens trans que removeram os seios (mastectomia), o risco de câncer de mama é reduzido, mas não eliminado, sendo crucial a avaliação com um profissional de saúde para definir uma rotina de exames. “O acompanhamento por profissionais de saúde mental experientes com a população de mulheres lésbicas, bissexuais e homens trans pode ajudar na melhora da autoestima e na redução de condições como ansiedade, depressão e transtornos de estresse pós-traumático”, finaliza.

Continue lendo

MAIS LIDAS